Pré Candidato a Presidente do Palmeiras detona Galliote e Leila Pereira
Por DANIEL BOCATTO E FRANCISCO DE LAURENTIIS
Durante entrevista para a Espn, Saverio Orlandi possível concorrente da Leila Pereira para Presidente do Palmeiras na eleição em Novembro 2021 falou sobre Leila e Galliote .
“Se você lembrar, o Galiotte saiu como candidato único na 1ª eleição dele, num consenso que envolveu não só a situação com o Paulo Nobre e os grupos dele, mas também, os grupos do Mustafá, que, na época, eram de oposição e de outras correntes”, iniciou.
“O Maurício entrou no clube pacificado. Ocorre que, nesse passo recente da gestão dele, especialmente no final da 1ª gestão, quando veio a mudança estatutária que permitiu à Leila participar da atual eleição presidencial, ocorreu uma ruptura. Houve uma reorganização de forças, uma dentro da situação e outra mais heterogênea, composta por várias correntes, que é a oposição atual”.
Até o momento, apenas Leila Pereira, dona das patrocinadoras Crefisa e FAM, que têm contrato exclusivo com o Verdão, se postulou à disputa da presidência.
Nome forte da chapa “Juntos pela mesma paixão”, a empresária é a candidata da situação para disputar a presidência do clube pela primeira vez na história.
Nas últimas eleições, o Palmeiras viveu um cenário um tanto quanto incomum, uma vez que os candidatos da oposição não se apresentaram, deixando caminho livre para a eleição e reeleição de Galiotte. Porém, para as próximas semanas, a tendência é que a oposição apresente seu expoente.
Apesar de deixar claro que ainda não é oficialmente candidato ao pleito, Savério Orlandi, ex-diretor de futebol e ex-presidente do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) do Alviverde, deve ser o nome da oposição para a disputa.
Em entrevista ao ESPN.com.br, o advogado, formado pela PUC-SP, e que atua na área do direito empresarial, está na vida política do Alviverde desde 2001 e se diz um “pós-doutor” em Palmeiras por conta da experiência adquirida nos últimos anos, justamente por ter transitado em diferentes áreas do clube.
Confira abaixo na íntegra todos os tópicos elaborados pela reportagem e abordados na entrevista com o possível futuro candidato da oposição do Palmeiras.
Quem é Savério Orlandi?
“Eu sou palmeirense de 3ª geração, começando pelo meu avô, depois meu pai e meu tio, aí meu irmão e meus primos. Agora, vem a 4ª geração, dos sobrinhos e filhos. Sou associado desde 1983, frequento o clube desde então. Entrei para a política em 2001. Em fevereiro do ano passado, fiz 30 anos de Conselho”
Saverio Orlandi falou em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br
“Disputei eleições nesse período e, em 2016, me tornei vitalício. Exerci a diretoria de futebol nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010, nas gestões Della Monica e Belluzzo. No COF, participei de quatro mandatos até recentemente em 2021, quando se encerrou minha passagem”.
“Eu sempre falo que o meu período de diretoria de futebol foi um aprendizado muito grande, pois era um cargo executivo direto. Foi um “mestrado” que eu fiz no clube. Mas meu “pós-doutorado, em abrangência e entendimento de Palmeiras, principalmente da parte financeira, eu fiz no COF”.
“Na vida profissional, sou advogado formado pela PUC e atuo na área de direito empresarial, sobretudo na construção civil. Muitas pessoas acham que atuo também na área de direito desportivo, mas no dia-a-dia não. Leio muito sobre a legislação, dou aulas em faculdade e pós-graduações sobre o assunto, mas meu dia-a-dia é no direito empresarial”.
“Nesse momento, eu me disponibilizei e me coloquei no quadro de interessados na disputa da presidência, que terá eleição agora em novembro, com validação das candidaturas pelo Conselho Deliberativo no dia 4 de outubro. Não sou candidato oficial ainda, porque tem que ocorrer a indicação até o dia 20 de setembro, mas existe a identificação por parte do grupo da oposição, que hoje comporta várias correntes, algumas ligadas ao ex-presidente Mustafá (Contursi), outras ao Paulo Nobre, alguns membros independentes. Então, estamos aguardando uma tentativa de consolidação numa corrente só. Sou um postulante à disputa”.
A oposição perdeu força no Palmeiras? O que houve com a vida política do clube?
“O processo político recente do Palmeiras passou por algumas inflexões. A primeira delas, de uma maneira mais genérica, foi a própria transição dos quadros. Muitos conselheiros antigos, e eu falo isso pois estou no Conselho há 20 anos, pela ordem natural, já não estão mais entre nós. Então, houve essa transição natural com novas pessoas”.
“Mas há também muitos conselheiros em 1º, 2º, até 3º mandato. Houve, na transição do Paulo Nobre para o Maurício Galiotte, um apaziguamento, uma pacificação dentro do clube. Se você lembrar, o Galiotte saiu como candidato único na 1ª eleição dele, num consenso que envolveu não só a situação, com o Paulo Nobre e os grupos dele, mas também os grupos do Mustafá, que, na época, eram de oposição e de outras correntes. O Maurício entrou no clube pacificado”.
Ocorre que, nesse passo recente da gestão dele, especialmente no final da 1ª gestão, quando veio a mudança estatutária que permitiu à Leila participar hoje da eleição presidencial, ocorreu uma ruptura. Houve uma reorganização de forças, uma dentro da situação e outra mais heterogênea, composta por várias correntes, que é a oposição atual”.
“Houve também algumas questões adicionais, como motivos pessoais, no caso do Paulo Nobre, que sempre foi um líder, mas decidiu não mais participar da política do Palmeiras, ou do Genaro Marino, que concorreu à presidência na última eleição, mas depois, muito por conta de retaliações, sofreu um processo que culminou, de forma injusta, em sua suspensão”.
“O uso recorrente de processos de sindicância interna, que terminam em sanções disciplinares, certamente inibiu um pouco a oposição nos últimos anos. Eu vejo um Palmeiras hoje que, lamentavelmente, está rachado e não consegue encontrar um consenso. E que também flerta às vezes com essa questão absolutista, na qual ou você segue a situação ou você pode experimentar problemas, como alguns já experimentaram”.
Parceria ‘ganha-ganha’ entre Crefisa e Palmeiras e ‘conflito de interesses’ com Leila no poder
“É uma questão interessante e abrangente. Nossa preocupação com o conflito de interesses é muito grande, muito embora ela não seja levada em consideração por muita gente. Sempre tentam minimizar a existência e a potencialidade desses conflitos, e a gente enxerga que eles existem e podem atrapalhar o contexto das coisas, ainda mais com tantos projetos futuros para o futebol brasileiro, que vão exigir pessoas de liderança forte. Vamos ter que ver como a Leila, se ela for eventualmente vencedora, vai se comportar
Precisamos ver, por exemplo, como seria sua relação com a Federação, que é uma entidade patrocinada por um concorrente do CNPJ dela, e a mesma coisa com uma possível Liga de clubes, que teria o afastamento das transmissões da TV Globo, onde ela é anunciante”.
“É importante ressaltar que, desde que ela chegou ao clube, sempre foi motivo de orgulho ter a parceria da Crefisa e da FAM com o Palmeiras. Em qualquer organização, seja esportiva, seja clube de futebol, seja uma organização empresarial, ter o apoio de uma instituição financeira é sempre motivo de orgulho e júbilo, é uma segurança e uma dádiva. Essa parceria sempre foi muito interessante”.
“Eu, pessoalmente, falo com tranquilidade, pois sempre falei com o Nobre, com o Galiotte, com o Genaro, que estava se desenhando, como de fato aconteceu, uma relação de ganha-ganha. Ou seja: um relacionamento onde, através da grandeza do Palmeiras, que estava num processo de reconstrução e chegou a um parceiro forte, ambos saíram ao final do dia em uma situação exitosa. Era um jogo de ganha-ganha, e foi isso que aconteceu”.
“Muita gente do clube, da coletividade, do lado dos torcedores, ao lado do júbilo, da alegria e da satisfação de desenvolver essa parceria, tratava essa relação entre Palmeiras e Crefisa quase como ‘mendicância’, ‘dependência’, pelo fato dela de fato pagar um valor que está acima do praticado no mercado. Mas isso ocorre por um motivo muito simples: a Crefisa adquiriu a totalidade do patrocínio do Palmeiras. Ou seja, é uma outra relação e um outro valor”.
“No Palmeiras, ela detém todas as propriedades e possibilidades de promoção, inclusive com o uso de atletas. A exploração da capilaridade de tantos milhões de torcedores e associados pela empresa dela rende um grande atrativo para os clubes. Os contratos de patrocínio não são tão somente para estampar a marca para aparecer na TV ou no jornal do dia seguinte, é muito mais do que isso. E, por consequência, deve custar mais, mesmo. É outro produto, é o que o clube entrega e mais”.
“A Crefisa era uma entidade consolidada, teve um crescimento expressivo nos últimos tempos, mas em parte certamente pela visibilidade dada pelo Palmeiras. Agora, quanto à FAM, ela não tinha a visibilidade que tem hoje. Atualmente, a faculdade está entre os grandes players entre as instituições de ensino ‘por atacado’. E ela adquiriu isso através da capilaridade oferecida pela carteira do Palmeiras. É por isso que alcançou o tamanho que tem hoje”.
“O fato dela ter antecipado o acordo de patrocínio por mais três anos, aliás, é uma estratégia de mitigação dos conflitos que tratamos antes. Era um assunto digamos que ‘indefensável’, porque como ela ia sentar de um lado da mesa como patrocinadora e do outro como presidente do Palmeiras? Isso sem falar em assinar nas duas lacunas do contrato”.
“Quando ela antecipou, conseguiu mitigar, ao menos em parte, esse conflito de interesses. Mas, no final do dia, mostra o que eu sempre estive convencido: que o relacionamento Palmeiras e Crefisa era uma relação de ganha-ganha, tanto que permitiu a ela, de forma antecipada, ter o sentimento de ser a virtual próxima presidente do Palmeiras. Ela ainda não é, pois existe o processo eleitoral e pode ser que ela não saia vencedora. Mas, independentemente de qualquer coisa, ela aposta na vitória e não quer declinar do negócio”.
Como concorrer com Leila, que parece deter uma unanimidade política de apoio no Palmeiras?
“É claro que é uma dificuldade muito grande, mas a eleição é realizada no âmbito de um clube esportivo. Quem vai decidir a eleição é o associado, e ele tem demandas que a gente conhece. O clube envolve uma prestação de serviço continuada, uma relação perene que tem de ser retificada a todo momento, e é a essa pessoa que vamos nos dirigir (na eleição). E nem todos os associados se sentem 100% representados (pelos candidatos atuais). Alguns procuram outras opções. Quem frequenta o clube vê isso. Sobretudo depois que me apresentei como postulante à candidatura, comecei a ser abordado e ver esse grau de possibilidade de ter novas adesões”.
“É claro que eu não passo nem perto dos níveis de popularidade que têm a candidata Leila, assim como tinham o Paulo Nobre e outros nomes, tenho absoluta convicção disso. Mas, dentro do clube, há pessoas que têm interlocução, que vão tentar formar seus grupos, e aí que vamos tentar reverter. Porque, no final das contas, se você pegar como termômetro as últimas eleições que fizemos envolvendo associados, deu sempre 60% a 40%. É essa diferença que vamos tentar trabalhar, seja quem for”.
Finanças do Palmeiras: queda no sócio-torcedor, ‘descontrole’ em 2018 e 2019 e Flamengo como ‘espelho’
“Quanto ao patrocínio da Crefisa, nunca ninguém foi contra a Leila ou nada disso, sempre deixei isso muito claro. Lembrando também que essa rubrica de patrocínio, com base em tudo o que falamos, não é só relacionada à exposição da marca na camisa. Você tem potencialidade de fortalecer seu fundamento econômico através da exploração, e os patrocínios estão evoluindo”.
“O Flamengo, hoje, no somatório, é maior que o Palmeiras. O patrocinador paga um absurdo? É verdade, mas paga e recebe na mesma conta. Está havendo um incremento que vai chegar a todos do segmento. Todos os clubes terão patrocínios maiores quando encontrarem parceiros que entendam que é um negócio mais amplo”.
“A estrutura das receitas do Palmeiras, de uma maneira mais geral, em 31 de dezembro de 2019 – e não vamos considerar 2020, pois foi um ano atípico e não é adequado seu usado para esse tipo de análise – se você for ver o somatório dos faturamentos dos clubes brasileiros neste exercício, em linhas gerais são: 35% direitos de TV, 25% relacionados a venda de atletas, 15% patrocínio, 15% bilheteria e sócio-torcedor e 10% premiação, clube social, etc”.
“Essa é a estrutura básica no país. Com o Palmeiras, é mais ou menos assim. Em 2019, foi 18%, ou cerca de um quinto do faturamento, o patrocínio da Crefisa, algo normal, pois varia de 15% a 20% nos times nacionais. Mas você tem sempre que preservar e cuidar da sua manutenção, porque isso se deteriora muito rápido”.
“O que aconteceu no Palmeiras em 2019? Vários fundamentos econômicos foram prejudicados. Terminamos o ano com média de 10, 12 mil torcedores, no pior índice da era Allianz Parque. Terminamos 2019 com o sócio-torcedor num viés de declínio. É claro que o sócio-torcedor tem sazonalidades, muitas vezes relacionadas a conquistas, mas é normal, você vai fazer o crescimento orgânico dela mesmo se perder um pouco. Infelizmente, não foi o que aconteceu com o Palmeiras”.
E, na parte financeira, houve ainda um descontrole em 2018 e 2019 decorrente de operações para reforçar o elenco. Não houve dimensionamento. Racionalizar significa gastar bastante, mas gastar bem. E esse era outro fundamento ruim que tinha em 2019 e muitos clubes experimentaram: o estrangulamento do caixa. Tanto é que chegou 2020 e operações como o empréstimo do Dudu e a demora para a renovação do Gustavo Gómez a gente via que tinha conexão com 2019, pois as coisas foram prorrogadas para depois, já que o caixa do clube não tinha condições de arcar com despesas como luvas e comissionamento”.
“O Palmeiras tem que olhar, seja a Leila ou outro presidente, para além da receita de patrocínio, que é um fundamento que já está equacionado. Precisa resolver os outros. Como resolver a questão do público em jogos de menor influência, ou como colocar mais de 30 mil pessoas em jogo da Libertadores às 21h30 que passa na TV”.
“Como conseguir recompor a situação de crescimento orgânico do sócio-torcedor, e assim por diante. Claro que patrocínio é importante, mas ele representa 18% e não está agregado às premiações, que vão para outro setor da receita, mas é outra coisa que você incrementa. E o Palmeiras, nos últimos anos, teve premiações expressivas por meio de conquistas em campo e boas campanhas”.
“Para finalizar, outra coisa que está num momento mais maduro são as operações de direitos econômicos de atletas, que compõem quase a terceira parte do faturamento dos clubes. O Palmeiras tem uma condição muito melhor hoje, por um trabalho cuja origem data de uma década. Está de parabéns a diretoria por ter alcançado o estágio em que está hoje, de transição plena, que te permite ter cinco ou seis potenciais garotos no time principal”.
“Mas tem que lembrar que esse trabalho começou há 10 anos, com Marcos Biazotto, Jorginho, Paulo Nobre e Erasmo Damiani, que só saiu do Palmeiras porque foi para a seleção e indicou o João Paulo (Sampaio, atual diretor da base alviverde). Então, não foi algo do dia para a noite. Hoje chegou a um ponto que, com a venda de dois atletas, você fortalece muito o caixa, algo que antigamente no Palmeiras era muito sazonal”.
“Na minha época teve o Valdivia, o Diego Cavalieri, uma ou outra venda mais expressiva, mas agora tem a condição de auxiliar muito. É algo que o Flamengo faz já há muito tempo, bem antes do Vinicius Jr. e do Paquetá, é algo que vem lá de trás. Felizmente, pelo processo de reconstrução do Palmeiras, temos uma pujança nesse fundamento econômico, e agora temos que performar”.
“Se estão batendo na casa de R$ 700 milhões, R$ 800 milhões (de receita), podem chegar a R$ 1 milhão, R$ 1,2 milhão. E com controle, porque as despesas também não podem crescer em espiral, chegando a um ponto que você não consiga cumprir os compromissos, como em 2019”.
Gestão Galiotte: marcante no futebol e ‘bastante negativa’ na parte política e econômica
“Eu conheci o Maurício quando ele era diretor social na gestão do Belluzzo. De cara a gente teve grande afinidade. Tenho muito respeito por ele. Sempre falei com ele e continuo falando, inclusive nos momentos ruins. Quando fui relator do COF e fiz aquele parecer contrário à conversão dos contratos de patrocínio da Crefisa em empréstimos, fui massacrado, muito embora dentro do COF meu relatório tenha sido votado por unanimidade dos membros, inclusive por gente da atual gestão”.
“Lembro, inclusive, de ter uma conversa com ele no final de 2019, quando ficou aquela questão de quem contratar para diretor de futebol entre Rodrigo Caetano e Diego Cerri, o Maurício conversou comigo. Na época da (escolha) do Abel (Ferreira como novo técnico) eu também sugeri um nome, que era outro treinador, mas também português. É importante deixar claro que, no final do dia, nós estamos interessados no bem da mesma coisa, que é o Palmeiras”.
A gestão do Maurício sem dúvida vai entrar na história como uma administração exitosa, e isso é verdade, sobretudo se for considerada a predominância do aspecto esportivo. Poderia ter ganho mais? Sim, isso não se discute, mas teve conquistas expressivas. Ele foi muito vitorioso no aspecto esportivo”.
“Mas clube não é só isso, você tem que verificar também as outras questões. Ele teve um problema de relacionamento e imagem e flertou com um momento muito ruim, entre 2017 e 2018. Depois, em 2019, teve a questão da campanha publicitária (da Puma) que tinha como slogan ‘a inveja é verde’, algo que muitos palmeirenses não aderiram. Foi outro momento que experimentamos um dano à imagem. Ele conseguiu recompor em 2020, com a questão da pandemia, no momento em que tem sucesso esportivo ao mesmo tempo em que não faz nenhuma demissão entre funcionários do clube”.
“Se examinar o aspecto político, a gestão dele não foi boa. Foi bastante negativa, na verdade. Ele recebeu um clube pacificado e, em cinco anos, rachou o clube completamente. Não que tenha sido culpa só dele, mas também por omissão, por permitir que se mudassem as regras do jogo no meio do caminho com muita facilidade, e também por aceitar uma dívida gigantesca de forma que não foi correta e sem nenhuma objeção”.
“No aspecto financeiro ele deixou a desejar, e no político idem. Esse descontrole a gente de uma certa maneira a gente experimenta os efeitos dele até hoje e só vai conseguir resolver isso na transição do elenco de 2022/23, quando vencem a maioria dos contratos, que é algo que o próximo mandatário terá que resolver”.
“Se a gente for ver de uma maneira linear, a era Galiotte passará como uma administração exitosa, e tem que ser assim, mas que inspira algumas críticas também e questões que vão ter que ser enfrentadas e resolvidas pelos próximos que vão vir. A parte política é mais difícil, porque não tem lógica, mas a parte financeira, sim. É possível recompor e recuperar, pois ainda não está 100% recuperada, já que tem ainda o abalo causado pela pandemia”.
Futebol: Savério rechaça fama de apoiador do ‘bom e barato’ e rasga elogios a Anderson Barros
“Sobre a questão da diretoria de futebol atual, é muito diferente da comparação com a minha passagem. Quando eu fui diretor, o Palmeiras vivia uma condição difícil, muito delicada, com atrasos e sem capacidade de investimento. A gente conseguiu no 1º ano, através de uma filosofia de fazer poucas operações, ter um ano positivo. Trouxemos nomes como Pierre, Léo Lima uma ou outra operação…”.
“Algumas a gente fazia trocas, etc. Em 2008, com ajuda da Traffic, as coisas melhoraram um pouquinho. Além disso, havia questões estruturais. O Palmeiras não estava na condição que está hoje. Naquela época, em 2008, foi o 1º ano que alcançamos mais de R$ 100 milhões de faturamento. Hoje é pouquíssimo, mas falando de 13 anos atrás era uma marca expressiva. A gente solidificou o departamento jurídico, com o André Sica, que eu levei em 2010 e está no clube até hoje”.
Teve a 1ª gerência de marketing dedicada ao futebol, com o Juan Britto, que hoje é assessor do Marcos. Na área de imprensa, tínhamos a Líbero, que fez um trabalho muito consistente. Trouxemos nutricionista. Teve muitos avanços, muitas coisas. É um processo que foi sendo aperfeiçoado com o passar dos anos. Eu vi uma entrevista recente com o ex-diretor (Alexandre Mattos) que é como se a chegada dele marcasse a inauguração do Palmeiras. E isso não pode ser admitido, pois não foi o que aconteceu e não é assim que as coisas funcionam no futebol”.
“Sobre o Anderson, eu não estou lá no dia-a-dia. Estive com o Anderson duas vezes, uma delas na Associação Brasileira de Executivos de Futebol. É uma pessoa de fácil comunicação e acesso. O trabalho dele é difícil a gente falar se foi bom ou ruim. Mas uma coisa temos que colocar como verdade: o torcedor não entende e critica o Anderson Barros, faz uma enxurrada de memes, mas, se você for ver a proposta executiva para a qual ele foi contratado, ele foi um excelente gestor”.
“Ele foi contratado para um momento em que o Palmeiras não tinha capacidade de fazer mais qualquer tipo de investimento. Não tinha mais capacidade de gastar dinheiro. Pelo contrário! Ele tinha que fazer um replanejamento e ter criatividade. É muito fácil operar como diretor comercial, tendo o cheque pronto para gastar, mas não foi o caso dele”.
“E ele nem veio ao Palmeiras para isso. Ele passou por momentos muito difíceis, teve que mandar treinador embora, comandar um momento de ruptura, e isso é muito complicado. Eu passei por vários momentos assim. Mas, quando você passa por isso, tem a chance de sanar o clube. É muito difícil, mas foi exatamente o que ele fez. E foi o que ele foi contratado para fazer. Ele teve uma passagem ótima, enxugou a falha, colocou o clube numa condição financeira bem melhor do que estava outro dia, no qual o Palmeiras tinha uma folha que não conseguia suportar”.
“No lugar dele, eu faria pouca coisa diferente. Ele não teve margem. A gente tem que ser justo. Eu não posso falar por ele, porque não tenho convívio no dia-a-dia. Mas o que eu tenho de vivência, pois minha gestão no COF acabou há três meses, e pelo que eu conheço do futebol do Palmeiras, a verdade é essa. Se gostamos ou não, ele não tinha muito mais o que fazer dentro desse processo de saneamento. A prova disso é que nenhuma grande operação foi feita nesta última janela, o que é algo completamente normal em todo departamento de futebol”.
O que Savério pensa caso seja eleito? Como conduzir um Palmeiras que segue filosofia única nos últimos anos?
“Eu sou um cara muito preparado para assumir a presidência do Palmeiras. Fiz uma preparação muito aprofundada nos últimos anos. Além de tudo que já vivi no futebol, que é algo que faz parte da minha vida há muitos anos, fiz estudos, publicações de artigos, etc”.
“Sou do quadro da conciliação, do quadro técnico. Gosto de ouvir todos. Conheço os processos políticos e tenho trânsito em todas as correntes. O Palmeiras deve estar hoje com 276 conselheiros. Eu posso ligar para qualquer um e, certamente, a grande maioria vai ter interesse em ouvir o que eu tenho para falar e terá prazer em falar comigo”.
“Foi o caminho que eu construí no Palmeiras. Forjei isso no serviço da diretoria de futebol, do Conselho, do COF, e sempre me pautei por isso. Além disso, é importante falar, até para deixar claro para o torcedor, que o Palmeiras vive um momento de pujança (econômica), mas há muito a fazer ainda”.
“Eu venho falando disso há anos. No futuro próximo, há uma miríade de oportunidades para o mercado futebolístico brasileiro. Não só questão de Liga dos clubes e de confecção de tabela de campeonatos, é muito mais do que isso. É fazer a revisão do produto futebol, de definir novas formas de transmissão”.
“O fato de ter a lei do mandante não quer dizer que você vai transmitir seus jogos no YouTube e pronto. Não é assim. É um momento muito propício, e o Palmeiras, com todo o respeito aos outros clubes, hoje é um time líder no país e que tem que liderar esses processos. São vários desafios”.
“Inclusive, o Palmeiras tem outro relacionamento comercial específico a melhorar, que é com o Allianz Parque. Já são sete anos de contrato, e já ocorreram litígio, arbitragem, muitas coisas. Hoje, já está sendo encontrada uma nova condição de conversa. Prova disso é a inauguração da sala de troféus
A WTorre passou por uma transição grande com o falecimento do (dono) Walter (Torre). Eles querem revigorar o negócio após a pandemia. Vão querer usar a arena todo dia, só não nos dias de jogos pois há comodato com o Palmeiras. O momento é muito desafiador, mas é por isso que estou motivado em ser o presidente do Palmeiras nesta hora